Já ouviu falar de sincronicidade? Bom, em poucas palavras, o conceito sincronicidade* define acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. Melhor dizendo, é a experiência de ocorrerem alguns eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa que o vivencia.
Isso já aconteceu várias vezes comigo e agora vem acontecendo de novo. Recentemente li coisas (sem querer, sem buscar a respeito) e também vi o lindíssimo filme “Grace de Mônaco” (este mesmo que está em cartaz nos cinemas) que tratam de situações e questões que eu venho enfrentando no meu dia a dia, desde que decidi mudar o rumo da minha vida. Tudo isso fala especificamente de se redescobrir, se reinventar. Nascer e crescer de novo para algo completamente diferente, fora do seu conhecimento e muitas vezes do seu domínio. Contextualizando brevemente, há dois anos eu me mudei - de mala e cuia - para a Itália. E o meu motivo para esta mudança foi igual ao da belíssima Grace Kelly, que no discurso final do filme conta: “Alguns perguntaram por que parti de Hollywood. Bem, parti porque... porque me apaixonei pelo príncipe encantado”.
Nós duas enfrentamos uma significativa mudança em nossas vidas - guardadas as devidas proporções, é claro. Em algum momento nós demos ouvidos a uma voz interior e topamos encarar o novo, que trouxe junto consigo um recomeço.
Isso exigiu de mim esforços, assim por dizer, a 360º. Toda a minha vida foi (ainda é) impactada por esta decisão. E calculando a minha nova rota me deparo com muitas mudanças não imediatas, muito menos perfeitas.
De repente tudo passou a ser mais sério e mais intenso do que antes. Percebo que este recomeço que eu topei encarar é, ao mesmo tempo, rico e profundo. Apesar de ter encarado-o por um maravilhoso motivo, as dificuldades se fazem presentes. Tudo é muito lindo, mas muitas coisas dão errado. E essas batalhas que eu lidava corriqueiramente, repentinamente, ganharam um peso extra. Pois estou lidando, o tempo todo, com o novo. Desde que me mudei estou tendo que encarar novos começos na minha vida. Por conta disso, posso te dizer seguramente que recomeçar é uma batalha pessoal.
Quando já sentia que conseguia me comunicar relativamente bem (mais ou menos 6,8 meses depois que eu cheguei) comecei a procurar emprego e me candidatei para um doutorado e um mestrado na Universidade de Genova. Ao me candidatar não esperava pelo grande golpe que me aguardava. Não passei no doutorado e para o mestrado fiquei, vergonhosamente, entre os últimos nomes da lista de espera. Sofri um grande impacto psicológico. Eu não estava habituada a não ser aceita em algo. Sempre fui bem em exames, entrevistas, processos seletivos, etc. Lidar com essa ‘derrota’ foi muito duro.
Preciso identificar aqueles significados (ainda não encontrados) que me ajudarão a dar sentido ao que já tenho. Sei que estou tendo uma super chance, em pleno voo, de reinventar o meu próprio eu e a minha história, mas diariamente sinto a sensação de que preciso afastar o meu medo e que preciso me encontrar de uma forma profunda.
Em um determinado momento deste filme sobre a princesa de Mônaco, o padre - seu fiel conselheiro, pergunta à Grace: “E quem é você verdadeiramente?”.
Ela, e eu neste momento, precisamos ser capazes de olhar para nós mesmos, com estranhamento, para que possamos enxergar as novas possibilidades. Eu preciso me reinventar, aqui e agora. Preciso buscar a minha própria verdade, através de perguntas sinceras, ao mesmo tempo em que tenho que contornar os nãos que a vida me oferece. Não foi a toa que a minha ilusão do controle, ‘è sparita’, como se diz em italiano - desapareceu completamente.
Continuando com a sincronicidade, dias atrás li em uma revista o seguinte:
“Esse é o processo de se desconhecer como uma forma mais profunda de se conhecer. (...) Exige muita coragem. Porque dá um medo danado".
Logo no começo deste texto comentei que recomeçar é uma batalha pessoal. Eu disse isso porque essa minha deliciosa oportunidade de mudar está me exigindo um verdadeiro crescimento pessoal. Estou sendo desafiada a buscar significado no meu caminho, a refletir sobre uma vida mais autêntica, a descobrir o que eu realmente gosto, o que eu sei fazer, o que me dá orgulho e alegria, até mesmo a trabalhar com outras coisas. E não por menos, a aceitar que, muitas vezes, simplesmente não sei, mas que não estou começando do zero. Estou na busca, prestando mais atenção a minha vida, cavoucando as minhas experiências, buscando o que realmente me define... Para enfim reinventar-me e encontrar a serenidade. Aquela mesma que o padre de Grace a aconselha: “(...) E você precisará fazer isso sozinha. (...) a serenidade a que todos nós aspiramos. E encontrará a paz quando aceitar os papéis que é destinada a interpretá-lo. Mãe devota, esposa fiel, líder beneficente. Diante desse desafio maior que você, superará os seus medos (...)”.
Diante tudo, o que posso te dizer é que reinventar a minha vida está sendo uma experiência sublime.
Se é fácil? Não. O que vem adiante? Não sei. Mas alguma coisa está acontecendo. *** *Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. A sincronicidade é também referida por Jung de "coincidência significativa". **Extrato da matéria Virtudes Possíveis – Virtude Nº7 - Justiça, de José Francisco Botelho, publicado na revista Vida Simples, edição 142.
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